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domingo, 30 de setembro de 2007

In Black Jesus Del Pozo x Délices de Cartier


O velho ditado que diz que "na vida nada se cria tudo se copia" é uma verdade bem considerável no ramo perfumístico; claro que não aplicável a todos os perfumes e seus narizes criadores, no entanto quem procura sempre acha algum ponto de intersecção em criações de um mesmo perfumista e, eu encontrei similaridades ao experimentar In Black,o perfume do estilista e executivo da
moda espanhola, Jesus Del Pozo.
A minha intenção não foi incorporar a ' scentblogger Sherlock Holmes' para descobrir de onde vinha tal semelhança entre In Black e Délices de Cartier, mas depois de um tempo que se conhece um pouco mais do ramo perfumístico, é muito fácil estabelecer alguns diálogos entre aromas.
No caso desta fragrância e de Délices de Cartier, ambos foram criados pela perfumista Christine Nagel, respectivamente em 2005 e 2006, o que mostra que o perfume de Cartier sofreu a influência de In Black. Nesta hora, minha crítica ferina é imaginar o que leva uma maison como Cartier a investir milhões (ou até mais) em um lançamento de um mesmo nariz que evidencia, nitidamente, uma lembrança de um perfume de outra grife. Nem Freud explica.
Ambos os perfumes levam uma nota que é o pilar aromático dos perfumes, a cereja. In Black abre notas de cereja negra, doce, quente e agradável , a qual evolui para um corpo floral frutal abaunilhado, levemente
licoroso e atalcado com a protagonização das notas de cereja, jasmin, madeira licorosa, baunilha e patchouli. Délices apresenta-se como um perfume menos quente e adocicado, com a presença da cereja gelada. O início trabalha o paradoxo do quente e frio, pois o aroma tem o frescor deste tipo de cereja com o calor esperado por qualquer tipo de fruta vermelha. A evolução é aconchegante e mais contida em comparação a In Black. Isso porque o efeito licoroso e atalcado não é uma característica de Délices e sim uma base floral frutal almiscarada, ambarina e, principalmente, com leves nuances abaunilhadas e amendoadas, em função da ação da fava bean. Ambos os perfumes também levam Jasmin e violeta nas composições .
Além da aproximação aromática, os perfumes também estão bem próximos com relação às propostas de suas marcas. In Black, como grande parte dos perfumes de estilistas, tem o objetivo de acompanhar a pele da mulher moderna, luxuosa, envolvente e transgressora, com apelo de uso noturno . Cartier lança seu Délices para a mulher glamourosa, ousada e sedutora. Em resumo, intenções semelhantes envoltas em um frasco com cerejas.
Diante destas similaridades, só me resta acreditar que Christine Nagel deixou-se influenciar, mesmo que desintencionalmente, na criação de Délices e, Jesus del Pozo ganhou uma versão mais 'clean', iluminada e sutil para uso durante o dia, ainda que em nome de Cartier. Bom ou ruim? Não para o(a) potencial comprador (a) que terá à disposição dois bons perfumes a la Cherry.





Fotos: Campanha In Black Jesus del Pozo e Délices de Cartier. Fontes: JP site
e Cartier site, respectivamente.

sábado, 29 de setembro de 2007

Egoïste Platinum pour homme, Chanel


Se há um perfume fadado à maravilhosa sensação de sentir um aroma leve e elegante em um homem de bom gosto, este perfume é Egoïste Platinum . A grande maioria das mulheres adoram aromas não invasivos em peles masculinas, incluindo a própria que lhes escreve. Aromas que são inspirados em leveza, sofisticação e masculinidade despertam admiração e criam impacto em qualquer mulher, por isso homens que usam Egoïste Platinum (ou que anseiam fazê-lo) devem ter a atitude egoísta de colocar este fougère da maison Chanel em lugar privilegiado dentre seus interesses.
É um dos fougères que considero mais aromático, bem produzido e com uma intervenção floral que dá delicadeza ao perfume. As notas de saída evidenciam a ação da lavanda e do alecrim que dão um efeito fresco, herbal e canforado ao perfume, os quais se misturam mais tarde ao gerânio e demais notas que dão um efeito mentolado, levemente cítrico e mais floral almiscarado.
O amadeirado sofisticado e bem dosado é mais evidente nas notas de cedro e , principalmente, de musgo de carvalho. Ciclicamente, esta última nota interfere bem mais, dentre as de base, na evolução do perfume.
Egoïste Platinum é um fòugere diferenciado em comparação aos outros básicos masculinos nesta categoria. Tem cheiro de homem chique e bem sucedido. Aqueles que não se esforçam muito para comprovar que são bons, pois sua marca é a solidez de suas ações, destinadas ao sucesso e em permanente reciclagem. Sua auto-estima é aparente. Por estas razões, este clássico masculino de Chanel é também sinônimo de contemporaneidade.
É um perfume versátil para o dia a dia de um homem de negócios, por exemplo. Aliás, eu o vejo na pele de um homem em um ambiente de trabalho, vivenciando sua carreira de forma prática e com êxito. Entre uma reunião ali, um happy hour lá, mais uma borrifada de Egoïste Platinum e a certeza de que este perfume não passará desapercebido.







Fotos, na sequência: Egoïste Platinum (site Eukasa.de)
Executivo (site shutterstock.com )

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Gloria, Cacharel


Gloria by Cacharel é um clássico da marca que resolveu aposentá-lo, pelo menos no Brasil. Já não encontra-se Gloria por aí, com tanta facilidade; por isso decidi resgatar este aroma e homenageá-lo no que ele tem de melhor: o efeito surpresa na evolução de suas notas, principalmente no drydown do perfume, que é quando ele se assenta na pele.
Para quem já encontrou a fragrância Gloria e teve um momento a sós com ela, entenderá o que direi sobre este efeito. Ele é surpreendente. A primeira impressão é de um oriental abaunilhado e não um oriental amadeirado. O perfume abre as notas doces e nada pueris de amaretto e baunilha, um efeito encantador para os(as) fãs de uma vanilla amendoada diferenciada. Aqui, o amaretto dá um efeito caramelizado e amadeirado ao mix. No início, um pouco tímido formando um casal com a baunilha, depois de um período, já entregue a um famoso "mènage a trois" perfumístico, convidando a madeira de cedro para novas sensações de prazer à qualquer olfato que simpatize com estas notas.
Além de aguçar este sentido, Gloria chega a atiçar o paladar. Basta imaginar uma nota de Amaretto, muito saborosa e comestível. Com certeza, você desejará abocanhar Gloria, pelo menos, o estoque que ainda reste em algumas perfumarias.


Considero o Amaretto, o coração e o sexo de Gloria. É o que desperta o amor e o prazer aos apaixonados por esta fragrância; o que lidera todas as demais notas; o que a torna especial e quente .E como todo desejo e sua consumação final, a sensação de estar com Gloria é aconchegante, romântica e surpreendente. Após o calor das notas quentes, a base do perfume evidencia uma entrada triunfal, fresca e permanente do floral , com destaque para a Rosa Damascena a qual se agrega às demais notas gourmands, agora mais suaves. Esta constância da rosa, que desabrocha após a fase exacerbadamente gourmand do perfume, é única.
A Rosa de Damascus também dá feminilidade à fragrância junto com a Flor de Hibiscus; ambas exaltam a orientalidade de Gloria, despertando o imaginário sobre o feminino simbólico do perfume, o feminino de antigas deusas orientais. Estas flores da Pérsia e Egito permitem o efeito surpresa, uma gloriosa experiência de uma Gloria que não será esquecida.







Quer um gloria? Ainda disponível nas seguintes lojas, clique aqui

Fotos: Campanha Gloria, Cacharel. Site image des parfums
Na ordem, Hibiscus e Rosa Damascena, Site Wikipedia

sábado, 22 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Patrick Süskind

"Ele freqüentemente ficava lá, encostado à parede, ou encolhido em um canto escuro, olhos fechados, boca entreaberta e as narinas dilatadas, quieto como uma vara de pesca numa vagarosa corrente escura. E quando finalmente um sopro de ar levava um fio delicado de aroma até seu nariz, ele o tomava e não o deixava ir embora. Então cheirava somente esse odor, segurando-o firmemente, puxando-o para dentro de si e preservando-o para sempre. O odor poderia ser um velho conhecido ou uma variação de um deles; poderia também ser um novinho em folha, com praticamente nada similar ao que ele já havia cheirado, ou mesmo visto, até aquele momento: o cheiro de seda passada, por exemplo, de chá de tomilho-selvagem, de um bordado feito com fio de prata."

Patrick Süskind, O perfume



Foto: O ator Ben Whishaw como Grenouille, o protagonista, que é dotado de prodigioso sentido de olfato na adaptação do filme Perfume - a história de um assassino para o cinema.

O perfume na literatura com Marcel Proust

"Quando de um passado muito distante nada subsiste depois das pessoas estarem mortas, depois das coisas estarem quebradas e dispersas, somente sabores e cheiros, mais fragéis, porém mais duradouros, mais não-substanciais, mais persistentes e mais fiéis permanecem estáveis por longo tempo, como almas, lembrando, esperando, ansiando, dentre as ruínas de todo o resto; carregam inabaláveis, na minúscula e quase impalpável gota de sua essência, a vasta estrutura da memória."

Marcel Proust, Remembrance of Things Past




Foto: capa do livro perfume of memory,
de
Michelle Nikly. Para ver a sinopse, clique aqui

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Bernardo de Guimarães


Nosso amor é tão puro! - antes parece
A nota aérea e vaga
De ignota melodia, êxtase doce,
Perfume que embriaga!...

Amo-te como se ama o albor da aurora,
O claro azul do céu,
O perfume da flor, a luz da estrela,
Da noite o escuro véu.

Bernardo de Guimarães, O Amor Ideal




Foto: Romeo & Juliet, de Franco Zefferelli

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Castro Alves

O Perfume é o invólucro invisível,
Que encerra as formas da mulher bonita.
Bem como a salamandra em chamas vive,
Entre perfumes a sultana habita.


Escrínio aveludado onde se guarda
Colar de pedras — a beleza esquiva,
Espécie de crisálida, onde mora
A borboleta dos salões — a Diva.


Alma das flores — quando as flores morrem,
Os perfumes emigram para as belas,
Trocam lábios de virgens — por boninas,
Trocam lírios — por seios de donzelas!


E ali — silfos travessos, traiçoeiros
Voam cantando em lânguido compasso
Ocultos nesses cálices macios
Das covinhas de um rosto ou dum regaço.


Vós, que não entendeis a lenda oculta,
A linguagem mimosa dos aromas,
De Madalena a urna olhais apenas
Como um primor de orientais redomas;


E não vedes que ali na mirra e nardo
Vai toda a crença da Judia loura...
E que o óleo, que lava os pés do Cristo,
É uma reza também da pecadora.


Por mim eu sei que há confidências ternas,
Um poema saudoso, angustiado,
Se uma rosa de há muito emurchecida,
Rola acaso de um livro abandonado.


O espírito talvez dos tempos idos
Desperta ali como invisível nume...
E o poeta murmura suspirando:
"Bem me lembro... era este o seu perfume!"


E que segredo não revela acaso
De uma mulher a predileta essência?
Ora o cheiro é lascivo e provocante!
Ora casto, infantil, como a inocência!


Ora propala os sensuais anseios
D'alcova de Ninon ou Margarida,
Ora o mistério divinal do leito,
Onde sonha Cecília adormecida.


Aqui, na magnólia de Celuta
Lambe a solta madeixa, que se estira.
Unge o bronze do dorso da cabocla,
E o mármore do corpo da Hetaíra.


É que o perfume denuncia o espírito
Que sob as formas feminis palpita...
Pois como a salamandra em chamas vive,
Entre perfumes a mulher habita.

Castro Alves, Os perfumes





Foto: Folhas de sândalo no flick Sharma

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Oscar Wilde


"Ele viu que não havia qualquer estado de espírito que não tivesse seu correspondente no mundo dos sentidos, e se pôs a descobrir a verdadeira relação entre eles, imaginando o que haveria no olíbano que fazia com que as pessoas se sentissem místicas, no âmbar cinzento, que mexia com a paixão das pessoas, nas violetas, que despertavam memórias de um romantismo que não existe mais e no almíscar, que perturbava a mente."

Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray


Foto: árvores de olíbano em Oman, uma imagem mítica


O perfume na literatura com Charles Baudelaire

Esta semana é dedicada às referências literárias sobre perfumes e afins. Nada melhor que aliar duas artes sensitivas: a arte dos aromas e a arte das palavras. Perfumaria e literatura, atemporais e universais, em um momento para reflexão e inspiração. Enquanto lê estas palavras, perfume-se! Pode apostar que serão atos poéticos e sensoriais inesquecíveis.

Alguém encontra um frasco, e de uma borrifada
Um espírito, agora renovado e vivo, se derrama.

Mil idéias adormecidas, lúgubres crisálidas

Tremendo nas sombras como jovens borboletas,

Que se põem a voar , as asas enrugadas se abrindo

Em tons de azul, sopros de rosa, e faíscas de dourado.


Charles Baudelaire, " O Frasco"





foto: Frasco de perfume com borboleta ornamentada da Victorias' Jewerlry


domingo, 16 de setembro de 2007

Trouble EDP, Boucheron



Mulheres que usam Trouble como um perfume que expressa sua marca são mulheres 'trouble', no sentido quase real da palavra, mas não pejorativo.
Entendo Trouble como um perfume para mulheres complexas, que não são tão desvendáveis como solucionar um mero problema. A sua complexidade está relacionada a ser um 'Trouble' . Mulheres que se dividem na dualidade de ser intrigante e misteriosa e, ao mesmo tempo, franca e clara. É desta forma que vejo o perfume, criado por Jacques Cavallier, o mesmo criador de Cinèma de Yves Saint Laurent, perfume com o qual Trouble estabelece algumas nuances compartilhadas nas notas de jasmine sambac, amber e baunilha, que identificam que o perfumista estabeleceu, consciente ou não, uma semelhança de aromas entre eles.
Ao contrário de uma boa parte de mulheres adeptas e simpatizantes do perfume, eu não vejo Trouble como um perfume extravagante,o famoso 'arrasa-quarteirão', pelo menos não em cem por cento do termo, mesmo sendo um perfume parte de minha coleção. De fato, ele é exuberante na elaboração da base quente e sensual, com um fundo ambarino doce; no entanto a dualidade do perfume está relacionada à sua capacidade de também ser um perfume com evolução intimista e com jogos de contrastes entre a evidência de nuances cítricas, expondo seu lado claro e a toxicidade pertubadora de notas quentes, expondo seu lado enigmático. Eis a questão dúbia da personalidade deste clássico de Boucheron.
As notas de saída sinalizam a presença de limão na composição, de forma imediata. Esta citricidade evidencia o início da ação desta dualidade, pois o limão não é luminoso como uma nota de verão. Pelo contrário, ele atua
paralelamente com um corpo floral quente, ora permanecendo mais oculto, ora vibrando o cítrico da fragrância. Nota-se depois que o jasmine sambac, encabeçado como nota de coração tem a influência de uma nota rara, vibrante e que parece envenenar o perfume, o foxglove, trazendo à minha lembrança o aspecto sensual do perfume e, ao mesmo tempo, intimista. Neste momento, sinto - me dividida entre a hesitação de ser provocativa e fazer-se notar por todos e ser impenetrável, sigilosa e reservada. O calor de Trobule age como um veneno, pronto para entorpecer-me ou excitar-me. O efeito narcótico da composição abre espaço para um tipo de "alucinação olfativa", na qual percebo discretas notas mentoladas que agem com as abaunilhadas e ambarinas, com o intuito de selar o jogo de opostos. Depois de um período, é possível ver uma base amber abaunilhada, com discreto jasmine sambac, sempre constante. Quente e confortável, não menos sensual e sofisticado. Característica que o aproxima de Cinèma, na minha opinião.






Trouble é um perfume fascinante quando avaliado sob este ponto de vista, o da dualidade. Este conceito do dual me inspira a identificá-lo como um perfume para uma mulher flamenca. Não só pela imagem do frasco vermelho com a cor do sangue quente que circula nas veias e o coração efervescente e inquieto de uma flamenca, mas pela personalidade desta mulher, ao mesmo tempo, tão exacerbante e tão íntima com seus sentimentos e sua arte. Ter este duende, que é o espírito poderoso de ser flamenco, pertubador e apaziguador, de explosão das emoções fascinantes após um momento só seu. O flamenco se move por esta dualidade que é tão evidente e tão obscura, tão reflexiva e tão convulsiva, tão discreta e tão exuberante. A mulher que é eternamente elegante, feminina e complexa, assim como Trouble.





Fotos: Trouble Boucheron
Fotos: Flamenco dancers do maravilhoso pintor Fabian Perez. Visite sua web aqui

sábado, 15 de setembro de 2007

Apparition x Apparition Homme, Ungaro


Hoje é dia de guerra perfumada dos sexos. De um lado Apparition feminino, do outro Apparition Homme, este último lançado há pouco tempo no mercado pela marca de Emanuel Ungaro, a label ligada ao designer de moda de próprio nome, cujo refinamento é relacionado ao luxo da alta costura, o qual ele aprendeu com o competente Balenciaga. Como a maioria dos estilistas, Ungaro empenhou-se em lançar seus perfumes, sendo dois deles o casal Apparition.
A comparação entre os dois perfumes traz à tona a velha questão tão comum na perfumaria: a diferença de afeição entre duas fragrâncias, cada uma ligada a um sexo e que não se equilibram com o mesmo sucesso. No mercado da perfumaria, é natural perceber que nem sempre o perfume lançado para o sexo masculino atende a mesma expectativa que o seu antecessor para o sexo feminino. Casos recentes como Prada Amber e Amour pour homme fazem companhia para Apparition no que se refere à perda desta guerra olfativa com os antecessores femininos. Pobres homens!
O casal Apparition não tem sinergia alguma que propicie uma equilibrada aceitação de ambos em um mesmo (ou similar) nível de igualdade. O feminino é um floral licoroso com uma base amendoada e com patchouli, a nota em destaque relaciona-se às frutas vermelhas, tão sedutoras como um vestido de Ungaro em um corpo flamejante. É um dos florais frutais que considero mais maduros para a pele de uma mulher adulta, porque ele tem duas características que o tornam inovador e razoavelmente elegante: a primeira é a que o transforma em um perfume com aroma de framboesa, nada infantil e associado a uma base aveludada com heliótrope e à sofisticação de uma saída de licor. A segunda é a que o aproxima à mesma proposta de Délices de Cartier, um perfume baseado em frutas vermelhas com uma abordagem refinada. A mesma abordagem que Guerlain tentou para o seu Insolence e não encantou muitas mulheres.




As primeiras notas são alcoolizadas e doces, como derramar uma taça de licor de raspberry na boca ou deliciar-se com o recheio licoroso de um bombom, sugando-o gulosamente com a língua. Posteriormente, o floral abre ainda com um aspecto bem frutal, com as berries atuando com delicadeza, agora no fundo incendiado pela maciez da noz. Uma nuance macia como o fino toque em um tecido felpudo, pronto para ser trabalhado em um corpo monumental.
Apparition homme está no outro extremo, a milhares de distância em termos de qualidade. Quando o comparo com a versão feminina, lembro-me de um perfume nu, totalmente sem roupagem, sem expressividade. É como se Ungaro tivesse esquecido de vestir o homem. As primeiras notas prometem um perfume mais fresco e que pode converter-se em um aroma diferenciado. Essa foi minha sensação, aquele impulso de animar-me com a esperança de um masculino tão bom quanto outros, mas foi só uma momentânea sensação.
A mandarina mistura-se a uma saída green que logo escala a atuação do vétiver. O efeito picante da pimenta anula-se à medida que o perfume evolui. Pobre Apparition masculino, pobre evolução! Em poucos minutos o perfume deixa de existir e o sentimento é de que , na guerra perfumada entre sexos, as mulheres foram privilegiadas pelo 'capitão' Emanuel Ungaro.




Hey baby Apparition Homme, ganhei a guerra!
Quer comemorar com um licor de framboesa?




Será que no próximo lançamento, eu ganho a batalha?
Acho que vou encher a cara!



Quer conferir os preços do vencedor e perdedor? Clique aqui


Fotos: Licor de framboesa - Fonte bebida Boa
Bombom com licor de raspberry - Fonte Caixas de chocolate.com
Campanhas Apparition - fonte Images de parfum

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Shalimar EDT, Guerlain


Shalimar,um dos clássicos da Maison Guerlain, foi um daqueles perfumes de descoberta tardia. Eu já sabia que ele existia, mas permanecia olhando-o à distância assim como demais clássicos da Guerlain. Hoje percebo que, manter este distanciamento, foi o melhor comportamento que deveria ter tido. Foi fundamental para que eu convertesse a repulsa em uma nova paixão. Uma paixão digna de uma mulher no caminho do amadurecimento e muito mais preparada para valorizar perfumes vintage de efeito transgressor de uma época.
Shalimar foi criado em 1925 por uma das maisons mais clássicas e luxuosas da perfumaria, detentora de tesouros em forma de frasco de perfume como Samsara, Mitsouko e Jicky, entre outros. Esta concepção de Guerlain foi considerada bastante sensual para mulheres da época, tanto que não duvido que as mulheres queriam arrebatar a intensidade de suas paixões internas ao usar este perfume. Um aroma anticonvencional para o conservadorismo do período; um aroma o qual julgo atemporal justamente para que pudesse marcar o caminho para o amor na sua forma mais passional: o amor de um homem por uma mulher.





Este caminho lembra a entrada de Shalimar Gardens, no Paquistão. Os jardins preferidos de Mumtaz Majal, a esposa amada de Shah Jahan, o princípe indiano que construí o suntuoso mausoléu Taj Mahal como prova de seu amor pela sua falecida mulher. Esta história de amor serviu de inspiração para a criação de Shalimar, que significa casa de amor.
Assim como Taj Mahal é considerado uma prova de amor incondicional que atravessa os tempos, assim também Shalimar pode ser considerado uma prova de amor de Guerlain para a mulher de todos os tempos. Ele leva consigo uma conotação de perfume de gerações, de mulheres que amaram, que amam e que ainda amarão. É possível definir este perfume como uma poção mágica que levará a mulher ao profético amor eterno, assim como quem visita o Taj Mahal. Uma especíe de benção do casal Shah e Muntaz, da Índia para o mundo.
O início da fragrância abre notas cítricas que rapidamente culminarão em um floral oriental atalcado com um envolvimento prevalecente da íris, bem 'gritante', em uma base doce e amadeirada impactada pelas notas de baunilha e musk. Embora leve, o incenso tenta prevalecer na pele com o almíscar de forma a competir espaço na base do perfume. É um perfume de perfil arrebatador como o que imagino sendo de Shah Jahan e, em sintonia, com seus sentimentos ao perder sua amada e prestar uma homenagem. Isso porque é uma fragrância que começa com uma saída de notas mais frias como se fosse o gélido túmulo de sua esposa, fazendo com que a pele fique fresca momentaneamente. Ao abrir o floral com destaque para a íris e a baunilha, o perfume se aquece de forma instantânea como se Shan tentasse manter este amor aceso e quente, eternizado no fogo do seu amor, contrariando a fria perda.
Avaliado neste contexto ou não, trata-se de um belo perfume, além de ter como mix notas de limão, bergamota, rose de maio, opoponax, bergamota, jasmin, tonka bean, baunilha, incenso, iris e ambergris; uma combinação suntuosa assim como o Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo.
E se Shalimar é uma casa de amor e o amor é um tipo de maravilha, espero que mulheres sejam guiadas pelos caminhos deste aroma e levadas para esta casa amorosa, abençoada por Shah Jahan e sua amada 'jóia do palácio'.






Clique AQUI e compare os preços de perfumes Guerlain, incluindo o Shalimar.

Fotos: Publicidade Shalimar, Guerlain; Fotos (em ordem) : Shalimar Gardens (Paquistão) e Taj Mahal (Índia), ambos patrimônios históricos pela Unesco.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Un Lys, Serge Lutens



Un Lys de Serge Lutens é um das fragrâncias mais belas para o corpo de uma mulher. É um perfume contemplativo do feminino na sua forma mais sensual e mais onírica. É um perfume da intimidade da Vênus que existe em cada mulher, envolvendo a pele como a de uma deusa da beleza, do erotismo e do amor. É um perfume divinal, que alavanca o gozo humano.
A característica mítica do perfume é este poder de persuadir-me a pensar que tanta graciosidade em um floral com toques de musk e baunilha, não poderia ser só humana. O mix de Un Lys são como a madrepérola na qual nasceu Afrodite; as espumas que geraram a deusa são como os lírios que tornam o perfume fascinante, encorpado por muitas flores cremosas e levemente doces.
O erotismo da Vênus dos romanos herdado pelo perfume não tem nenhuma relação com o erotismo escancarado e vulgarizado. Un Lys é erótico e afrodisíaco através das entrelinhas do perfume. A sensualidade inicia-se no primeiro contato com este bouquet de lírios, na intimidade feminina. Para prová-lo, vale um ambiente de penumbra, após estender um lençol branco e macio de cama, deitar-se com uma camisola sedosa e fluída e senti-lo em secreto. Deseja-lo a cada aspiração, incorporar o imaginário dos prazeres, dar início ao ritual de passagem da pureza virginal para o gozo maduro, em pensamentos, para depois estar pronta para exerce-lo com o mais Deus de todos os homens. Aquele que irá desvendar a mulher Afrodite, estabelecendo-se entre o onírico e o real: a fronteira entre sonhos divinais de prazer e a sua consumação terrena.





Este ritual não é restrito a mulheres virginais, adormecidas em sua sexualidade. Un Lys é justamente para um público bem mais maduro, não só perfumisticamente falando, mas também mulheres que estão descobrindo sua verdadeira sensualidade. Aqui, o conceito é expandir a ação da fragrância atando a delicadeza criada em forma de perfume por Serge Lutens com o erotismo que é revelado por un Lys. Neste ritual de passagem, a mulher passa de uma condição angelical para uma condição humana, cedendo ao prazer do perfume e a mudança que o mesmo provoca nela, em todo o desenvolvimento do mix na pele. É um perfume de indução ao êxtase, uma passagem à vigorosa energia sexual, em uma experiência olfativa , na qual a beleza éterea da mulher não lhe é tirada.


O ritual abre notas florais com uma nuance discretamente apimentada e seivática que rapidamente é circulada no calor da pele para dar entrada aos lírios, muitos deles. Esta abertura green do perfume, com uma pincelada animalesca é bem interessante pois ele sinaliza que o perfume não é só romântico, ele induz a desejos carnais. Ele mostra que há a possibilidade de envolver-se prazerosamente nestes lírios, sufocar-se com este aroma fronteiriço de toda realização de um desejo feminino. Mais adiante, como um lapso, os lírios surgem, belos e brancos. Inicialmente, mais puros como o corpo ainda a ser explorado. Depois, eles apresentam uma cremosidade, uma doçura almiscarda as quais envolve o corpo com muita feminilidade. A partir daí, já tomado e em crescente êxtase.
O aroma de Un Lys desvenda a mulher em forma de poesia sensual. As mesmas mulheres retratadas nestas pinturas, obras do pintor francês
Bouguereau
Mulheres meio divindades, meio humanas. Mulheres líricas. Mulheres Un Lys.





Fotos: lírios brancos . Pinturas do pintor francês William A. Bouguereau
( na ordem: Vênus, L'Etoile Perdue e Laurore)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Dior Addict, Dior




Poucos perfumes são capazes de gerar imagens tão pertubadoras e intoxicantes como Dior Addict, um perfume que considero um clássico noturno de rendição à luxúria e à perversão.
A primeira contemplação da fragrância é uma entrada de notas doces e sufocantes encorpadas por um marca olfativa especiada que está presente em toda jornada com Dior Addict. O floral oriental carrega notas de mandarina e dama da noite com maior expressividade realçadas por uma baunilha picante, quase bizarra e sempre atuante com a tonka bean que a realça no efeito amendoado do perfume. O aroma exótico é afetado pela presença do sândalo mysore, uma nota de origem indiana , que dá pungência e a luxúria oriental ao perfume. Uma mistura persecutória que invade a pele, expelindo odores para um comportamento poderoso e de muita energia libidinosa.





Considero Dior Addict um perfume alucinógeno , capaz de tirar a mulher da normalidade convencional dada pela sociedade, de dopá-la para que ela transforme amor e inocência em prazer e lascívia. Ele resgata a mulher cheia de fetiches, dona de suas próprias forças sexuais ao cobrir sua pele. Percebe-se uma dama da noite mostrando o seu lado dark, obscuro, pecador. Uma flor tóxica que envenena a áurea do perfume (o seu sillage) para liberar o comportamento depravado que ele pode causar.






Esta imagem noir do perfume faz defrontar-me com a dicotomia do filme Veludo Azul , de David Linch; a oposição entre atração e repulsão, inocência e experiência, perversão e amor, desejos normais e desejos aberrantes, etc. O perfume desperta este antagonismo a partir do momento que ele libera a sensualidade exposta, o desejo de transgredir o status quo, de invadir o desejo alheio, de doar-se a luxúria sem medo. Ele é um aroma libertador das fronteiras que bloqueam a carne, sedenta de toque e vontade de prazer.
Esta dicotomia não é só da mulher mas também do homem, logo Dior Addict é um veludo azul, totalmente compartilhável entre os sexos e cujo frasco azul é sentido como um envolvente veludo. Toque-o e deixe-se tocar.









Veludo azul. Clique aqui para ver os preços comparativos de Dior Addict




Fotos: campanha Dior Addict e divulgação Blue Velvet, de David Linch.DE . Atriz na foto é Isabella Rossellini

domingo, 9 de setembro de 2007

Amor pour homme, Cacharel

Amor pour homme é a última criação de Cacharel para o público masculino e promete ser o perfume para homens contemporâneos românticos e viris. Para dar forma ao perfume do homem sensível, a marca incluiu rosas como coração da fragrância a fim de retratar o amor que se revelará em Amor pour homme.
A proposta do perfume é digna de uma fantasia feminina, afinal a maioria das mulheres deseja ser envolvida por um homem, cujo perfume expressa romantismo e masculinidade, virtudes dignas de um princípe encantado moderno; no entanto uma coisa é a proposta do perfume, outra coisa é a ação do mesmo e até que ponto a fantasia pode tornar-se concreta. No caso de Amor pour homme, a fantasia continua fantasia.
A ação deste perfume reflete um acontecimento muito raro (e traumático) que é quando a fragrância não é sustentada pela nota principal que propõe. No caso de Amor pour homme, a nota de rosa não chega nem a existir e , durante todas as tentativas de sampling, custo a acreditar que isso sucede.
Tendo em vista este fato, minha experiência com o perfume é como se eu fosse uma mulher à espera deste homem Amor e, de repente, ele surge sem um bouquet de rosas para me presentear. Essa é a imagem que me vem à mente, esvaziando toda a fantasia gerada pela proposta do perfume.
Se por um lado as notas de rosa não aparecem, o perfume abre notas cítricas marcadas por um efeito picante com um vétiver mais prepoderante e adocicado. Aparentemente parece que o perfume tem uma evolução, mas não. Estas notas aparecem de forma bem discreta, quase nula. A versão masculina Amor de Cacharel é o que chamo de um perfume com notas congeladas que não expandem o perfume, permanecem na mesmice, com um fundo perfumado para caracterizar que se trata de um perfume. Aqui, o fundo é discretamente amadeirado e só.
O perfume é uma opção para homens não exigentes que o usariam no dia a dia e que não pretendem incorporar o Don Juan, do contrário podem cair de seus cavalos, derrubando qualquer possibilidade de romantismo.
Minha leitura sobre Amor Homme é que ele não entrega a composição que se propõe, sem a grandeza das rosas prometidas. Isso derruba qualquer chance de conquista, seja do homem seja da mulher . Além disso, está longe de acompanhar o êxito do seu par feminino Amor Amor, revelando mais uma criação capaz de despertar indiferença e não amor.




sábado, 8 de setembro de 2007

Crystal Flowers, Montale Paris



Se eu pudesse escolher um floral que simboliza a intersecção entre Sa Majestè la Rose (com rosas) e Un Lys (com lírios), ambos de Serge Lutens acrescido de flores mais adocicadas na formulação envoltas em nuances mais alcóolicas e com uma proposta mais orientalizada e sensual, este perfume seria Crystal Flowers de Montale.
A fragrância é um floral oriental encorpado por uma saída de rosas, que evoluí constantemente agregando novas flores, principalmente o lírio do vale, fechando o perfume com uma base de musk mais doce e de excelente fixação, tendo em vista uma fragrância baseada em flores muito sutis como alicerce do perfume.
Em Crystal Flowers, as rosas não murcham. Elas estão sempre brilhantes como se as pétalas refletissem o sol de uma campestre primavera, acompanhando o esplendor do bouquet de flores
para o constante regozijo da estação.
A primeira nota de saída foi como o desabrochar de uma rosa, não tão sintética em comparação a tantas outras do mercado mas também não era uma "in natura" com a de Sa Majestè la Rose. Ela acompanha uma nota com a qual estou me familiarizando que é o ambergris, muito comum na perfumaria árabe, que por sinal também é fonte de inspiração para Montale na sua série Oud. O ambegris tem um particularidade mais adocicável e terrena dentro da perfumaria oriental, por isso creio que ele é fundamental para caracterizar não só a intimidade de Montale com este nicho e as consequentes influências em sua criação Crystal Flowers, como também tornar as rosas deste perfume mais apegadas a um aspecto de campo, de estar ligado à terra, fazendo-me lembrar das rosas de Damasco, tão cultivadas no Oriente para adornarem o ambiente e as pessoas, ligadas a um aspecto mais familiar, de amar o que está atado à terra e a tudo que é a base de um ser humano como a família. A partir deste raciocínio que a nota de saída de Crystal Flowers lança uma rosa bem diferente da de Serge Lutens, nomeada como um rosa de apelo espiritual, de tão virginal.






Com a evolução do perfume, é possível ver que a constância das rosas orientais é impactada pela maravilhosa atuação do lírio do vale e algumas flores que se assemelham um pouco ao jasmin. O musk torna-se mais intimista a ponto de marcar na pele a necessidade de rosas em permanente atuação e de um perfume autosustentável.
A presença do lírio do vale é fundamental nesta fragrância para dar-lhe um aspecto de bouquet mais sensual e diverso. Se o perfume fosse perseguido somente pelas rosas, provavelmente seria romântico demais. No caso do lírio do vale, ele tem uma dupla função: trazer uma nova "felicidade", em termos aromáticos, para quem usa a fragrância e resgatar no perfume a sedução de um floral delicado, dado sua pecularidade tóxica. Por causa dele é que penso em Crystal Flowers como o perfume ideal para noivas, principalmente as que se casam durante o dia, em pleno campo.





Noivas têm que estar impecáveis como seus vestidos brancos e seus buquês vivazes, mas o perfume não precisa ser tão vivo. Ele só tem que vesti-las para a celebração, lembrando este lado mais puro da cerimônia como regado pelo aroma romântico das rosas. Por outro lado, noivas também são sensuais e comemoram o momento, como belas mulheres que encontraram os seus amores, aqueles que depois do altar as levarão para um momento revelador. Alguém que as desvendará em seu momento mais intoxicante, como o lírio que surge neste floral oriental. O amor romântico e a sensualidade sutil são reveladas em Crystal Flowers e convivem felizes para sempre.






sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Prada Amber pour Homme, Prada


Foi uma grande ilusão pensar em Prada Man como mais um oriental tão enigmático, exótico e poderoso quanto o début feminino Prada EDP. Neste páreo, as mulheres sairam ganhando e, mais uma vez, foram previlegiadas pelo bom gosto da marca da estilista Miuccia Prada.
Não encaro o perfume um fracasso, pelo contrário, ele é agradável quando bem avaliado, levando em conta o estilo masculino Prada de ser, que considero bem diferente do requinte que pode ser dado de forma mais exuberante à mulher Prada. O perfume masculino é um fóugere fresco diferenciado que recupera o homem clean de todas as formas. Considere aqui o termo "clean" como algo que não é over; algo que é simples, requintado e leve. Logo, o perfume faz menção a este homem: o versátil para o qual os próprios vestir, presença, abordagem e perfume têm que ser clean.
O começo de Prada Amber pour Homme abre notas frescas de bergamota com uma saída que lembra água de colônia, refrescante como uma lavanda.
É como se o homem acabasse de sair do banho. Esta saída da fragrância reflete um clima de Toilette ao homem; não qualquer tipo de fóugere descartável caracterizado como uma continuidade de um sabonete mas um fóugere que evidencia toques de vétiver envolvidos, posteriormente, por um aspecto floral unissex dada a presença da flor de laranjeira a qual orquestra bem a evolução do perfume com a bergamota inicial. Essa evolução é como o retrato do homem que, após este momento intimista, vestirá uma roupa bacana e continuará sendo discreto com algum toque especial. A discrição aqui é essa possibilidade de ter um perfume que não faz o estilo felino do sexo masculino e necessidade de chamar a atenção com um perfume sedutor, quase que afrodisíaco. Esta não é a intenção de Prada Man. Julgo que a intenção é a naturalidade com estilo.
À medida que o perfume se estabiliza, além da sempre presente bergamota adocicando o frescor da fragrância, é evidente a percepção de que o perfume tem um fundo bem anticonvencional com relação à nota de couro. Foi esta característica que salvou o perfume, na minha opinião. Normalmente notas de couros me causam um estranhamento que fica na fronteira entre a vontade de aceitá-las de forma impulsiva e a vontade de repugná-las por completo. Soam muito mais como repugnantes e invasivas como um estranho no ninho. No caso de Prada, a nota de couro é aveludada , agradável e onipresente. Esta onipresença pacífica da nota é o que o adjetiva como um fóugere diferenciado. Desde a concepção do perfume, estava claro que um dos acordes da fragrância seria o couro e o considero a base do perfume, junto com o amber e as notas fòugeres. O diferencial dele é exatamente este: um couro macio que já estabelece a partir das notas de saída um outro acorde para as notas de coração e fundo nas quais ele atua como protagonista. Um protagonista nada ordinário como tantos outros couros da perfumaria.
Posso até dizer que além de onipresente, a nota é onisciente. É como se ela soubesse toda a evolução do perfume e onde ela precisaria estar para não tornar Prada mais um lançamento elementar.
Assim como o império italiano de artigos de couro herdado por Miuccia Prada possibilitou a sua ascensão , também o couro parece ter possibilitado a Prada Amber pour homme algum tipo de elevação. Pelo menos, salvou-o da queda iminente de perfumes tão esperados e fracassados.

domingo, 2 de setembro de 2007

Iris Poudre, Frédéric Malle


Quem conhece meus gostos perfumísticos sabe que sou um ser em constante transformação. Vivo uma metamorfose com um razoável ecletismo com relação a perfurmes, embora confesse de coração aberto e joelhos no chão que sou uma mulher floral oriental com uma considerável inclinação aos florais amadeirados e aos orientais abaunilhados.
Não nego que minha coleção reflita uma história pessoal com algumas famílias olfativas e estados de espírito que também se agregam à minha personalidade como os florais frutais, joviais e românticos e os orientais especiados, maduros e sensuais os quais repaginam uma nova mulher em mim, dependendo do momento. No entanto, nesta história com perfumes, algo é um fato raro: Sou uma mulher que não tolera os florais muito luminosos, os chamados aldeídicos. A nota de aldeído é considerada um clássico na perfumaria fina e tem um efeito cintilante na nota de saída. Com exceção do meu Dolce & Gabanna feminino, único exemplar floral aldeídico na minha coleção e com o qual vivo uma relação quase de divórcio (o qual espero que não seja litigioso), eu conservo um afastamento total desta família olfativa.
Fiz um 'refresh' sobre meus gostos perfumísticos justamente para ilustrar que neste mundo de aromas nem tudo é "oito ou oitenta", como dizem por aí.Sempre pode haver uma escala trinta e seis, que é o ponto intermediário no qual se "paga com a língua" e que o perfume, inicialmente assustador para as narinas, se converte em uma adorável surpresa. Este foi o caso de Iris Poudre, da marca de nichia Frédéric Malle.
Conhecer Iris Poudre fez parte de um desafio olfativo. Um desafio que exigiu tolerância para provar um floral aldeídico com narinas bem abertas antes de julgá-lo; e foi nesta nova experiência que eu fui surpreendida com o velho e o novo de experimentar uma fragrância, com direito a perfumes "fantasmas" como coadjuvantes.
Perfumes amados ou odiados surgiram nesta minha viagem aromática com Iris Poudre, tais como Chanel nº 5 (Chanel), Lou Lou ( Cacharel), Dolce & Gabbana feminino(D&G) e até a última decepção de Frédéric Malle, o Fleur de Cassie. Todos assombraram minhas narinas, embora não de um modo tão negativo como esperava. Se por um lado, os clássicos aldeídicos apareceram, por outro lado, a fragrância criada pelo perfumista Pierre Bourdon quebrou o meu próprio paradigma de que se tem aldeído, fuja.
O perfume se mostrou um aldeído escancarado na saída com notas clássicas desta família ( aldeído, magnólia, etc.), mas ao acentuar-se na pele, mostrou uma nova faceta. Um agradável perfume , minimamente atalcado com notas de iris mais cremosas em uma base também abaunilhada e ambarada. Um perfume que me fez relacioná-lo ao perfume de uma diva retrô mais exuberante como Marilyn Monroe, o próprio ícone feminino que adorava umas gotas de Chanel nº 5 antes de dormir. Hoje ela usaria Iris Poudre como uma Marilyn repaginada.





As primeiras notas da fragrância têm a luminosidade clássica das notas de aldeído do Chanel nº 05, muito em função das acentuadas nuances de ylang-ylang e, posteriormente, da Iris. Neste momento, pensei que estivesse em um camarin hollywoodiano me arrumando para uma nova cena ou em um quarto bem vintage, penteando meus cabelos e colocando algumas gotas do perfume como a própria Marilyn o fazia. Senti que havia borrifado o próprio n° 5 de Chanel. À medida que as notas de saída deixaram a primeira impressão, percebi que algo me lembrava o D&G feminino, um pouco menos abrasivo; era como se emprestasse à Iris Poudre suas notas de cravo e muguet, seus pontos em comum. Flores como magnólia e jasmim, embora mais sufocadas pelo aldeído e a Iris acabavam dando um aspecto mais feminino e floral à fragrância.
Antes da base se estabilizar, percebi uma transição que me lembrou o Lou Lou, um dos perfumes que mais odeio. Não era um Lou Lou tão repugnante. Era uma Iris mais abaunilhada, mais suave, chique e perseguida por uma base que traria a sensação mais surpreendente e diferenciada , a de um leve atalcado mesclado com um ambarino e a delicadeza da iris, bem mais sofisticada. O fundo do perfume tornou-se aconchegante e intimista. Tão intimista que dormiu comigo esta noite, assim como Chanel nº 05 com a diva eternizada.
Conclui que Iris Poudre é um Chanel nº 05 para Marilyns Monroe modernas, preferencialmente entre lençois.




sábado, 1 de setembro de 2007

Must de Cartier pour femme EDT , Cartier



Must de Cartier é mais um "must have" de uma das marcas mais sofisticadas de perfumes do mundo. Afirmo que tanto ele como Le Baiser de Dragon são perfumes atemporais e que podem ser adquiridos por aqueles que tenham um gosto de fino trato e, igualmente, tolerante. Digo tolerante, porque, enquanto Le Baiser de Dragon é um perfume bem mais ostensivo , Must de Cartier é um perfume mais fácil na sua versão Eau de Toilette, embora tenha um início mais "old lady like", ofuscado por uma saída mais green que lembra chá verde e aquela típica perfumaria de frascos sobre penteadeiras vintages, com aromas mais ultrapassados.
Se o começo causa um estranhamento para quem admira Cartier parfums e os elogios dados à marca, o meio e fim do perfume é um convite ao diferencial dado à linha. Um diferencial que está longe da característica "antiga" de perfumes vintage e perfumes dos anos 80, década que foi lançado Must. É um desenvolvimento bem contemporâneo, extremamente feminino e em sintonia com a mulher que aflorece de forma delicada e elegante. Com destaque para o neroli, Must passa de notas de saída mais aldeídicas, cuja vivacidade ainda desabrochará para a doce leveza de uma baunilha não invasiva, coberta pela nota de vétiver que dá mais seriedade à fragrância.
Como idealizado por Cartier, concordo que Must é um convite à rejeição de convenções, por isso percebo que há um início aromático relacionado à tradição que muda para notas que liberam a mulher para algo mais desejável, discretamente transgressor,
com um tímido desbravadorismo
É justamente esta facilidade que atrai as mulheres : uma baunilha mais bem comportada na base do perfume, com uma leve cobertura de vétiver, tornando-o mais sensual. Esta baunilha torna a mulher digna de ser admirada no seu bom gosto, jovial e clássico, tornado Must um clássico feminino em permanente modernidade. Um perfume sempre reciclável para mulheres adultas, de todos os tempos.
Must é um must, porque sua baunilha não é pueril; ou seja, não infantiliza a mulher como tantas outras baunilhas que existem no mercado as quais parecem um retorno à adolescência. Must é um perfume para a mulher que, mesmo madura, é sempre capaz de unir a menina com a mulher em uma única pessoa.
O perfume começa um bouquet floral clássico e sério e ganha notas mais sensuais e doces que o rejuvenescem. Uma virtude que é um must , por sinal... um must de Cartier.